Lidia Cristiany Alves Assunção e Yasmin Monique Sousa da Silva


A INFLUÊNCIA DO FENÔMENO RELIGIOSO NOS PRIMÓRDIOS DA EDUCAÇÃO FORMAL NA CIDADE DE SANTARÉM


Introdução
A presente pesquisa buscou dados históricos relativos ao surgimento da educação formal de acordo com os moldes europeus na cidade de Santarém através da figura da Companhia de Jesus, ordem religiosa católica criada no período da Contrarreforma para catequização em diversas partes do mundo.
                           
Semelhante à todas as regiões brasileiras que tiveram influência marcante da presença evangelística da ordem religiosa, Santarém presenciou a doutrinação do povo indígena tupaiú, em que o aprendizado milenar através das tradições orais e da socialização entre seus membros através dos exemplos de afazeres domésticos foi sendo substituído gradativamente pela modelo de educação eurocêntrica, que buscava firmar as raízes colonizadoras da metrópole portuguesa.

O que analisamos neste trabalho é o quanto isso fundamenta as bases educacionais na atual cidade de Santarém, visto que a Companhia de Jesus teve situações precárias ao firmar a missão na região do Tapajós e o quanto isso refletiu na implantação da educação formal quanto as bases históricas do aprendizado nesta cidade.

Material e Métodos
A metodologia que buscou informações acerca das atividades escolares movidas pelas ordens religiosas que iniciaram os fundamentos da educação formal, conformes os moldes europeus, na cidade de Santarém, foi a pesquisa bibliográfica e revisão bibliográfica (análise de livros, artigos e resumos acerca do tema). Houve a revisão da literatura de material acerca do tema entre o período de 1661 a 1759 e, em linhas gerais, a compilação de informações que denotavam o modo de vida educacional que esses religiosos tiveram em Santarém.

Resultados e Discussão
Reforça-se que as noções de ensino e aprendizagem indígenas, eram baseadas nos aspectos da oralidade e da observância dos costumes dos mais velhos, nos afazeres da taba como um todo, cujas tradições perpassavam de geração para geração, através da transmissão oral, a narrativa dos mais velhos sobre sua ancestralidade, a imitação quanto as atividades executadas pelos mais velhos, o que configura que a aprendizagem se dava por meio da socialização entre os mais velhos e os mais novos da tribo [NUNES, 2009].

Assim como nas outras regiões brasileiras, os indígenas que habitavam pela região amazônica passaram por profundas modificações em seus hábitos e em sua historicidade desde os primeiros contatos com o homem colonizador e os primeiros religiosos europeus que aqui desembarcaram: os jesuítas da Companhia de Jesus.

Apesar do contato precoce do povo indígena tupaiús (ou tapajós) com os exploradores portugueses e alguns religiosos, é somente em 1661 que vem a ser instalada a missão (redução) que deu início à cidade de Santarém pelo padre João Felipe Bettendorf. Como reflexo disso, “padre Bettendorf escreveu catecismos na língua nativa e cuidou de ‘adaptar’ os índios à vida e aos costumes cristãos” [COLARES, 2005:21].

No trabalho de conversão dos indígenas da região era firmado de que os trabalhos seriam desenvolvidos a partir da catequese com os meninos. Nessa metodologia eram inclusas a “música, teatro, dança, persuasão e constrangimento” [DIAS, 2014:109]. A catequização não apenas visava garantir a conversão ao sistema do catolicismo, mas projetava garantir o completo domínio da Coroa portuguesa em terras brasileiras:

“[...] os padres jesuítas com base nas experiências anteriores, foram desenvolvendo os trabalhos de catequese junto aos índios do vale do Amazonas e seus afluentes, introduzindo elementos do catolicismo aos rituais indígenas como meio de catequizá-los” [DIAS, 2014:150].

Entretanto, a escassez de recursos com que o padre Bettendorf levanta a missão, dificulta a implantação de uma escola propriamente dita, e o que formado para o ensino é inicialmente voltada para o ensino da elite, com colonos portugueses que ali se instalaram e ainda

“De acordo com o Regimento Real de D. João III, os jesuítas estavam incumbidos da conversão dos índios à fé católica pela catequese e pela instrução. Nóbrega elaborou um plano educacional que previa o aprendizado do português e da doutrina cristã, escolas de ler e escrever, assim como o canto e a aprendizagem agrícola, seguido dos estudos da gramática latina [...]” [COLARES, 2005:22].

A aldeia do povo tapajós ou tupaiú só foi experimentar um espaço educacional propriamente dito em 1686, ano em que o padre João Maria veio morar na aldeia e iniciou uma pequena escola, o que se tornou a única fonte de educação formal até a elevação à categoria de vila, em 1758.

“Com a criação do Diretório dos Índios em 1757, que retirava o poder dos missionários de administrar as aldeias, teve início uma fase que culminou com a expulsão dos jesuítas de Portugal e seus domínios, em 1759. Pombal proibiu a escravidão indígena, transformou as aldeias em vilas e criou uma legislação que estimulava o casamento entre brancos e índios, tendo por objetivo a integração dos índios à civilização”. [SYMANSKI, 2012:56].

Considerações Finais
Certamente, não há dúvidas da forte influência religiosa na questão educacional em Santarém. Entretanto, apesar de ser uma das missões mais importantes do Grão-Pará, a antiga missão dos tapajós, atual cidade de Santarém teve um início precário dos registros da educação formal e essa situação só veio a sentir uma modificação após os decretos pombalinos estabelecidos na colônia determinarem a expulsão da ordem jesuíta e a educação formal ficar a cargo de iniciativas populares e, posteriormente, sob o gerenciamento do governo da colônia.

Apesar disso, e determinados pelo contexto histórico colonizador europeu, a Companhia de Jesus é de fundamental importância para a recrudescimento da missão e fortalecimento educacional da atual cidade de Santarém.

Referências
Lidia Cristiany Alves Assunção - É acadêmica do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). E-mail: lidiaaltc@yahoo.com.br

Yasmin Monique Sousa da Silva - É acadêmica do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). E-mail:

Wilverson Rodrigo Silva Melo (Orientador) -  É Mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Doutorando em História Contemporânea pela Universidade de Évora (UÉVORA). Atualmente é Docente na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). E-mail: w.rodrigohistoriador@bol.com.br.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006.

COLARES, Anselmo Alencar. A história da educação em Santarém: das origens ao fim do Regime Militar (1661-1985). Santarém: Instituto Cultural Boanerges Sena, 2005.

DIAS, João Aluizio Piranha. Educação colonial na Amazônia: a pedagogia dos jesuítas e invenção do Sairé. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2014.

NUNES,  Antonietta d’Aguiar. Educação indígena no Brasil antes da  chegada dos europeus. ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – Fortaleza, 2009.

SYMANSKI, Luís Cláudio Pereira. GOMES, Denise Maria Cavalcante. Mundos mesclados, espaços segregados: cultura material, mestiçagem e segmentação no sítio Aldeia em Santarém (PA). Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Sér. v.20. n.2. p. 53-90. jul.- dez. 2012.

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Como abordado no texto,a Companhia de Jesus exerceu grande influência no contexto educacional de Santarém. Sendo assim, essa herança religiosa ainda se encontra manifestada na educação da sociedade santarena? Em que aspectos? Joane da Silva Ribeiro

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Certamente. Temos a presença de escolas confessionais mantidas por entidades religiosas, tanto católicas quanto protestantes que são muito importantes, tanto na rede particular quanto na rede pública. Entretanto, cabe-nos lembrar que o início do ensino formal na cidade teve muitos percalços, tanto que por motivos em sua maioria financeiros, a missão que outrora fora chefiada pelo Pe. Felipe Bettendorf se retirou da localidade antes da expulsão da Companhia de Jesus decretada pelo Marquês de Pombal. Lidia Cristiany Alves Assunção

      Excluir
  3. Certamente. Temos a presença de escolas confessionais mantidas por entidades religiosas, tanto católicas quanto protestantes que são muito importantes, tanto na rede particular quanto na rede pública. Entretanto, cabe-nos lembrar que o início do ensino formal na cidade teve muitos percalços, tanto que por motivos em sua maioria financeiros, a missão que outrora fora chefiada pelo Pe. Felipe Bettendorf se retirou da localidade antes da expulsão da Companhia de Jesus decretada pelo Marquês de Pombal. Lidia Assunção

    ResponderExcluir
  4. O texto relata que os indígenas da região amazônica passaram por profundas modificações em seus costumes. Com base a esta afirmativa, cite alguns exemplos e as mudanças que estes vieram a contribuir para o ensino formal.
    Silvia Eleticia Santos do Nascimento.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa noite Silvia! Obrigada pelo seu questionamento. O contato com a missão da Companhia de Jesus e consequentemente com o europeu colonizador resultou em diversas e bruscas mudanças no modo de viver nos indígenas tapajó: um deles que podemos citar está no fato de os indígenas serem "remanejados" para viverem na redução (missão), deixando suas crenças, costumes, relacionamento político e cultural e absorverem os aspectos antropológicos eurocêntricos. Para tanto, quando a missão jesuíta deixou a localidade, já não era possível que os tapajó retornassem ao seu antigo modo de viver. A assimilação de episteme que diferia da sua resultou na perda da sua identidade. Hoje já observamos mudanças dentro da educação básica e do ensino superior que estão valorizando o ensino etnorracial conforme a legislação, fruto de grandes lutas dos movimentos indígenas no Brasil. Para isso, cabe principalmente às universidades através de projetos de extensão, alcançar a comunidade para a valorização e conhecimento da cultura e identidade indígena. Lidia Cristiany Alves Assunção

      Excluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.