Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro


O MÉTODO DA ANÁLISE DE DISCURSO NA LEITURA DO TEATRO GREGO


O teatro configurou-se como importante ferramenta pedagógica para os atenienses do século V a. C. A cultura e a política foram determinantes para a produção textual das peças. Nesse sentido, pode-se estudar as culturas políticas e os imaginários sociais presentes no cotidiano ateniense da época. A observação dos discursos políticos dos autores é fundamental nesse trabalho de reconhecimento, uma vez que as questões do momento permeavam a escrita e a recepção por parte do público. Importante também é reconhecer o lugar antropológico do espaço do teatro, que ratificava lugares sociais. Assim, a leitura crítica do teatro grego para um estudo científico requer uma inter-relação com outras disciplinas, como a antropologia, a sociologia e a linguística. Neste trabalho, analisaremos as contribuições linguístico-culturais e metodológicas da análise de discurso para uma apreensão mais intensa das problemáticas lançadas pelas tragédias e comédias atenienses do período clássico.

A tradição literária grega, como elemento constituinte de sua cultura, esteve permeada por ideias e sentimentos presentes naquela sociedade. Assim é que Romilly (1998, p. 10) afirma que "existe, evidentemente, uma relação entre a evolução puramente exterior das formas literárias e a renovação das ideias e dos sentimentos". Com isso, essa autora consolida a concepção de que a trajetória histórica do teatro em Atenas é parte da estrutura literária dos gregos antigos. Soma-se a esta ideia a afirmação de Harvey J. Graff (1987, p. 15), para quem toda literatura tem uma história e sem referência a essa história não se pode prosperar em seu estudo e entendimento. Graff (1987, p. 16) afirma que as bases de toda a literatura ocidental são lançadas pelos gregos, para quem a natureza dos gêneros literários era comunicativa, fazendo com que tivessem desde ali um caráter universal. Nesse sentido, os gêneros literários gregos (não só a tragédia e a comédia) sempre tiveram uma latente permuta com a sociedade em que estavam inseridos; como afirma Romilly (1984, p. 14), "o ritmo que conduz a literatura grega é o da história, e esta apresenta fases bastantes nítidas". Assim, as produções trágicas e cômicas não tiveram um desenvolvimento linear, pois sofreram alterações de acordo com fatores externos à produção.

Ao longo de todo o século passado, os estudos das obras literárias do teatro ateniense do século V a. C. passaram por diversos estágios de análise e gradativamente foram ampliando o foco das observações. Esta trajetória dos estudos apontou caminhos teóricos e abordagens diferentes, no decorrer do século, alterando o que se entendia por função social do teatro. De todo modo, os estudos sobre a tragédia e a comédia atenienses do período clássico exigem a consideração de que essas obras são o que Aristóteles (“Poética”) chamou de “mímesis” e que consideramos aqui como uma forma de representação da realidade. A partir daí, utilizamos como um dos caminhos possíveis para os estudos do teatro grego a metodologia da análise de discurso.

Destas considerações definidoras do percurso dos dramas do teatro grego, partimos a outras observações para, posteriormente, seguirmos à consideração metodológica da análise de discurso. O sociólogo francês Maurice Halbwachs (1990, p. 78), ao dimensionar a condição social da memória, afirma que as memórias individuais têm relação com a memória de um grupo, que deve ser concebida como uma memória coletiva. Pioneiro em estudos sobre a memória nas ciências sociais, esse autor apontou as contribuições da psicologia social e defendeu a memória como um processo constituído harmonicamente. A memória individual, para ele, não se constitui sem o apoio na coletividade, ou seja, baseia-se em um sentimento de grupo. Para esse autor, a memória individual sempre acompanha alguma referência de um grupo: olhamos ao mesmo tempo com nossos olhos e com os olhos dos outros. Assim, para Halbwachs, a memória coletiva é prova da existência de um gérmen social nas ações humanas. Nesse sentido, há na memória coletiva "transformações [que] atuam muito mais diretamente sobre a vida e o pensamento de seus membros" (HALBWACHS, 1990, p. 79, grifo nosso).

Em desenvolvimento à concepção de Halbwachs, Michael Pollak (1992, p. 210) caracterizou a memória como um objeto de lutas políticas, à medida que emergem diferentes lembranças para os mesmos acontecimentos. Para este autor, a memória então é passível de um processo conflitivo, concepção oposta à de Halbwachs, para quem o que há é um processo harmônico. No entanto, Pollak não deixa de reconhecer a dimensão coletiva da memória, apontada inicialmente por Halbwachs. No teatro grego, na memória coletiva e no imaginário dos atenienses como um todo não é possível observar um conjunto harmônico, de acordo com a concepção halbwachiana, mas é possível delimitar que os discursos presentes no teatro são reflexo de memórias coletivas.

Outro caráter fundamental do teatro que possui uma íntima relação com a memória é a sua monumentalidade, fazendo com que ele tenha servido como um lugar de memória; isto é, o teatro como um todo, assim como as peças (tragédias e comédias) podem hoje serem vistos como monumentos devido a fatores apresentados a seguir. Como afirma Mota (2011, p. 52), "o teatro ateniense é ao mesmo tempo um contínuo processo de sua atualização, experimentação e monumentalização".

Assim, consideramos o teatro como um lugar de memória e, consequentemente, um mecanismo de lembrança de tradições culturais entre os atenienses no século V a. C. As tradições culturais não permanecem rígidas ao longo do tempo, mas são permeadas e metamorfoseadas a partir de novas interações sociais, políticas e também culturais. Concebemos o lugar de memória como fomentador de símbolos culturais que em sua forma original já não mais são concebidos na prática. Dessa forma, o teatro colaborava para perpetuar as lembranças dos valores tradicionais na pólis, ao apresentar através do discurso ritos e símbolos.

Uma das ações funcionais do teatro em Atenas é ser uma projeção da memória, o que Pollak (1992, p. 202) define como mecanismo que suscita lembranças sobre valores, acontecimentos, lugares e personagens; no caso dos gregos, o teatro suscitava eventos míticos do universo dos helenos, além de tradições socioculturais específicas da pólis. Como espaço de lembranças, o monumento projeta acontecimentos e personagens com uma função pedagógica ou denunciativa: nesse espaço da pólis, as lembranças visam não só às festividades, mas à educação do cidadão presente no teatro de Atenas. Como um espaço que reúne um elevado número de cidadãos, o teatro é um importante mecanismo de poder que se alia ao discurso de seus autores trágicos e cômicos.

A análise de discurso no teatro
Levamos em conta primeiramente que o "discurso" é uma prática de linguagem que ratifica a relação necessária entre o homem e a realidade social e natural; no entanto, não se pode considerá-lo como uma transposição transparente dessa relação devido aos sentidos promovidos pela ideologia, como afirma Eni Orlandi (2012). Assim, essa autora concebe que o sujeito discursivo age a partir do inconsciente, uma vez que este relaciona-se diretamente com a ideologia.

Todo discurso, para ser inteligível, necessita do que Orlandi (2012, p. 43) define como interdiscurso, a memória do sujeito do discurso, que está ligada às influências de ideologias nas representações da cultura. A "formação discursiva", no viés trilhado por essa autora, diz respeito ao processo de produção de sentidos e tem relação com a direção política e ideológica do sujeito; isto é, as palavras têm um sentido determinado pela escolha que se faz delas, baseada no que fez elas serem escolhidas: é a determinação do que pode e do que deve ser dito.

As formações imaginárias do discurso das tragédias e das comédias demonstram que essas obras não são fechadas em si, mas estão inseridas em um conjunto de relações bastante amplo. Para Eni Orlandi (2012), os elementos constituintes das formações imaginárias de um discurso exprimem relações de força dele para com outros – o lugar de fala do discurso, que no caso específico refere-se ao Teatro de Dioniso –, além da relação de sentidos – que é a interdependência – e a antecipação – que é a influência dele sobre outros discursos.

Com estas proposições iniciais acerca do que compõe um discurso, instrumentalizamos a execução da análise de discurso estruturada na concepção defendida por Orlandi. Esta análise divide-se, em linhas gerais, em quatro etapas:

I - O processo de identificação do discurso
É a parte inicial da análise de discurso e compõe o levantamento inicial do que se trata no material a ser estudado: quem o produziu (sujeito locutor), seu público (sujeito interlocutor), época, contexto linguístico (natureza da linguagem), o objeto do discurso (juízos de valor), o material simbólico (o processo de circulação da obra) e a textualidade (enredo de que se trata o texto).

II - As condições de produção do discurso
Esta parte da análise refere-se à situação na qual ocorre a produção do discurso e compõe: o elemento desencadeador (as implicações político-culturais, ideológicas e/ou de outros vieses que impulsionaram a produção do discurso), a relação de sentido (contexto sociopolítico e afins), mecanismo de antecipação (signos de linguagem, significados simbólicos de expressões e termos chave no discurso), relação de força (lugar de fala do sujeito locutor) e formação imaginária (base política, social e cultural).

III - O processo discursivo
Análise das componentes linguísticas formadas por implicações históricas. Este processo é formado pela análise das seguintes partes: interdiscurso (os recursos de mediação do discurso, isto é, outros discursos de mesma temática no seu espaço-tempo), intradiscurso (os subentendidos do discurso estudado), memória discursiva (ideologias presentes no discurso, isto é, seus juízos de valor), intertexto (a politização do texto do referido discurso), paráfrase (argumentações utilizadas para ratificar os juízos de valor e o intertexto), polissemia (contradições presentes no discurso) e materialidade da polissemia (confronto do discurso com outros do mesmo espaço-tempo).

IV - As ilusões referenciais do discurso
Esta parte é uma interpretação crítica e baseada nas outras partes da análise de discurso. Refere-se aos ditos e aos não ditos do discurso; do confronto dessas informações é possível observar a objetividade do discurso com base na análise de discurso.

Com estas conceituações, apresentamos uma metodologia possível e acessível ao trabalho com o teatro grego, tanto para o ensino quanto para a pesquisa em História Antiga. É importante ressaltar que a metodologia alia-se à historiografia sobre os temas de que se trata no trabalho e que o próprio trabalho da análise de discurso para o ensino da História Antiga é uma maneira de pesquisar, pois os conceitos da análise de discurso que apresentamos leva o professor/pesquisador a confrontar as informações que ele tem disponíveis acerca do tema e dos objetos que analisa.

Referências
Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro é docente EAD na UPE, mestre em História Política pela UERJ e membro do Leitorado Antiguo (Grupo de ensino, pesquisa e extensão em História Antiga).

ARISTÓTELES. Poética. Tradução de Eudoro de Souza. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, n/d.

GRAFF, H. J. The Legacies of literacy: continuities and contradictions in western cultures and society. Bloomington: Indiana University Press, 1987.

HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Edições Vértice, 1990.

MOTA, M. Teatro Grego: novas perspectivas. In: ROCHA, S. (Org.). Cinco Ensaios sobre a Antiguidade. São Paulo: Annablume, 45-66, 2011.

ORLANDI, E. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes Editores, 2012.

POLLAK, M. Memória e identidade social. In: Estudos Históricos. N° 10. Vol. 5. Rio de Janeiro, 1992, p. 200-212.

ROMILLY, J. Fundamentos de Literatura Grega. Tradução de Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1984.

ROMILLY, J. A tragédia grega. Tradução de Ivo Martinazzo. Brasília: Editora UnB, 1998.


8 comentários:

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  2. Bom momento Luiz,

    Primeiramente gostaria de parabenizá-lo pelo seu texto, acho uma contribuição riquíssima para todos os pesquisadores/professores de História, não só os do âmbito da Antiguidade, já que através dessa sua discussão temos a possibilidade de ampliar esse debate para outras áreas e recortes temporais.
    Em um segundo momento eu gostaria de fazer um questionamento, visto que as fontes e os comentadores raramente tratam a respeito de como as peças teatrais foram recebidas, tendo em mente parte do trabalho do historiador é conjecturar sobre o passado ao qual ele não tem acesso direto através das fontes, eu gostaria que você pensasse que o passo seguinte após a análise do discurso seria contrapor a literatura/ficção com a realidade, qual seria seu ponto de partida e quais características sociais você abordaria para pensar "teatro x povo" e como as peças foram recebidas? Falando de uma maneira geral, e não específica, para que seja possível pensarmos uma metodologia.

    Luiz Henrique Silva Moreira

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    1. Olá, meu caro!
      Agradeço a leitura e o empenho em estabelecer o debate. Eu creio muito que os debates conceituais e metodológicos devem sempre estar no cerne do conhecimento historiográfico, se quisermos fazer da História um campo ativo dos conhecimentos humanos.
      Quanto ao contato com a fonte, é importante salientar que ela age como evidência de um espaço-tempo que não existe mais. Como afirma François Hartog, as evidências são as marcas sensíveis da relação passado-presente; através do que as fontes nos informam, é possível investigar sobre a memória de um tempo-espaço que já se foi. No entanto, não se pode questionar as fontes de maneira ingênua e o trabalho da análise de discurso é uma metodologia que busca sobretudo evitar essa armadilha, uma vez que traz conceitos e instrumentalizações como o processo discursivo, que busca reconstituir o contexto no qual o referido discurso (no caso, o teatro grego) foi produzido. Nesse sentido, observa-se que nenhum discurso será neutro ou imparcial e a possibilidade de haver discursos contrários é grande, levando-nos a relação entre os ditos e os não-ditos. Essa instrumentalização já é, por si, uma confrontação do documento analisado com seu contexto de produção e com outras fontes e a historiografia sobre o tema.
      Portanto, o ponto de partida para pensar a relação teatro-sociedade seria a confrontação da fonte selecionada com a instrumentalização metodológica e com fontes do espaço-tempo comum a ela. Essa instrumentalização poderia ser aplicada, inclusive, a outros tipos de fontes, como a cultura material, uma música, ou mesmo um documento oficial.
      No caso do teatro grego, algumas observações prévias devem ser ressaltadas: primeiro, a de que o Teatro na Atenas clássica, foi um espaço pedagógico para a sociedade e, por isso, as peças ali executadas tinham caráter denunciativo e educativo; por outro lado, o lugar de fala dos autores do teatro é fundamental para compreendermos os temas presentes nas peças, uma vez que a tensão política na democracia ateniense permitia a produção de discursos bastante antagônicos.

      Espero ter colaborado para o debate e fico grato pelo seu interesse.

      Por: Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro

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  3. Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro,

    gostaria de parabenizá-lo pelo texto, que apresenta uma perspectiva interdisciplinar, necessária à proposta de ensino que se pretende humana e holística. Partindo da análise do discurso, tem-se por pressuposto a leitura da obra, a fim de que se analisem, efetivamente, as estruturas linguísticas que sustentam o processo discursivo, daí, pressuponho que você preveja um trabalho interdisciplinar no caso de uma aplicação da teoria em sala de aula. Nesse caso, qual seria a(s) obra(s) do teatro grego que você indicaria para leitura? Em que nível do ensino você acredita ser viável promover essa leitura?
    Grata,
    Tatiane Kaspari.

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    1. Olá Tatiane,
      Agradeço a leitura e os elogios.
      Realmente, busco defender a ideia da interdisciplinaridade e de uma construção dialética da pesquisa e do ensino, uma vez que a atividade pedagógica é, também, a construção de conhecimento dos/com os alunos. As confrontações exigidas pela análise de discurso também ressaltam essa prática dialética, uma vez que, mesmo que o foco seja a análise da obra, ela não seja o único material a ser analisado. Afinal, as estruturas linguísticas trazem marcas da memória coletiva e dos símbolos culturais presentes na língua, o que impede a análise de discurso tornar-se um trabalho simplório ou reprodutivo.
      No caso do trabalho em sala de aula, existem possibilidades diferentes a depender do nível de ensino. No ensino superior, é possível trabalhar com esta metodologia para praticamente todas as peças do teatro grego (tanto comédias, quanto tragédias e drama satírico), além de permitir uma abordagem mais densa da obra e dos temas.
      No ensino básico, é importante que o professor tenha um trabalho prévio de seleção das fontes e dos temas, além de, se possível, fazer um recorte do material, para que o trabalho seja efetivo e não se perca tempo. Por exemplo, "Prometeu Acorrentado", de Ésquilo, permite uma análise bastante interessante sobre o mito de Prometeu, a importância do fogo para a humanidade e sobre o papel do herói Prometeu para os humanos, desde turmas de 6°ano do fundamental até turmas do Ensino Médio. No entanto, há que se preocupar em fazer a seleção de trechos específicos da peça. É possível também confrontar esses trechos com trechos da obra Teogonia, de Hesíodo, analisando formas diferentes de abordagem da temática. Ainda com o fundamental, pode-se trabalhar a democracia grega e/ou o papel da mulher na sociedade ateniense com a comédia "A revolução das mulheres", de Aristófanes, analisando como este autor abordava a condição social da mulher e a política de seu tempo.
      O mito de Édipo pode ser debatido com turmas do Ensino Médio, a partir da análise de um recorte da obra de Sófocles. A própria mitologia e a religião gregas são temas que podem ser questionados a partir da análise dessa peça.
      Com as obras de Eurípides pode-se, quase que de maneira geral, analisar problemas filosóficos humanos, como em "Medéia" ou em "Elektra".
      Com as comédias de Aristófanes, as referências à Guerra do Peloponeso e às críticas às inovações advindas da democracia são temas extremamente presentes e, portanto, destaques para o debate com os alunos, permitindo analisar os interesses do discurso desse autor para com sua sociedade, concluindo que não podemos observar de forma ingênua as fontes que nos são fornecidas.
      Por fim, no ensino médio, um trabalho interdisciplinar associando os professores de História, Filosofia e Literatura adverte sobre a importância da interação entre as disciplinas e promove uma efetividade maior na produção do conhecimento.

      Espero ter esclarecido e feito sugestões relevantes.

      Por: Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Gostaria de parabenizá-lo pelo texto, bem fundamentado e levanta um ponto deveras importante para a realização de uma boa análise de fonte histórica. Gostaria apenas de entender se esta metodologia proposta seria para um trabalho focados com alunos do ensino superior. Não consigo enxergar como este trabalho poderia ser realizado nos níveis básicos da educação. Logo, caso esta proposta também seja para a educação básica, você poderia falar um pouco mais sobre como fazer isto em sala?

    Sérgio Mendes

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    1. Olá Sérgio,
      Agradeço pelo elogio e o trabalho em ler o texto.
      Realmente, a análise da fonte é um trabalho basilar na História e, infelizmente, não é levada mais a fundo para a sala de aula, que é o espaço mais profícuo para isso. Há uma disparidade muito grande entre a 'História Acadêmica' e a 'História Ensinada', em grande parte pela discriminação que ocorre com esta última, que é negligenciada por muitos pesquisadores. Muitas vezes, a fonte é utilizada na sala de aula apenas como ilustração para a reprodução de uma narrativa já pronta e estática, que não permite ao aluno uma interação crítica. Os próprios livros didáticos muitas vezes reproduzem dessa forma.
      O trabalho da análise de discurso é uma instrumentalização metodológica para lidar com determinado material a ser estudado, que pode ser o teatro grego, como pode ser outros tipos de fontes. Além disso, a análise metodológica é uma prática de estudo e, portanto, também de ensino, o que credencia seu uso na sala de aula. O espaço mais "confortável" para essa atividade, sem dúvida, é o ensino superior, onde o material prévio dos alunos é mais denso e permite que eles possam fazer análises mais aprofundadas. No entanto, a depender do trabalho do professor, é possível utilizar a análise de discurso na educação básica, tanto no Ensino fundamental(a partir do 6°ano), quanto no Ensino Médio. É possível abordar uma comédia ou uma tragédia grega numa turma de 6° ano, selecionando um trecho a ser analisado pelos os alunos, dando-lhes uma preparação prévia, definindo para eles o passo a passo da atividade e os conceitos que eles devem ressaltar, para que eles façam uma leitura crítica do material que lhes é fornecido. A mesma estrutura, de forma mais extensa, pode ser aplicada a turmas do Ensino Médio.
      A título de exemplo: apliquei esta metodologia com uma turma de 6°ano do fundamental para a análise da música "Mulheres de Atenas" (Chico Buarque). As atividades que se seguiram foram: 1-aula expositiva sobre a condição social da mulher na Grécia Antiga; 2- conceitos da análise de discurso que devem ser ressaltados (definindo-os); 3-ouvimos a música e fizemos uma leitura coordenada da letra; 4- apresentação de quem é o autor e suas condições de produção; 5- cada aluno produziu em uma tabela algumas considerações advindas de sua própria interpretação da música. Ao final, fizemos um debate com o que eles produziram. Esse trabalho durou 3horas/aula (uma semana inteira de atividade da disciplina de História nesta turma).

      Espero ter contribuído e fico a disposição para mais esclarecimentos.

      Por: Luiz Henrique Bonifacio Cordeiro

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