OS DEGREDADOS DA TERRA BRASIL: reflexões sobre o Ensino de História e a Cidadania
Se antes dos europeus pisarem aqui existisse a linguagem
e a escrita tal qual a conhecemos hoje com seus códigos, grafemas e fonemas,
como suas variações e tons e sotaques o que diriam nossos ancestrais
tupiniquins sobre o princípio da cidadania? E sobre a modernidade, a vida, a
representação do ‘eu’ e a interação com os ‘outros’ e o meio? O meio que também
é mundo subscrito por um tempo onde a identidade individual é formada a partir
da consciência acerca da condição existencial, tanto no aspecto individual ou
mesmo como membro partícipe de distintas tribos, as mesmas tribos,
compreendidas na perspectiva do sociólogo francês Michel Maffesoli, sobretudo,
aquelas popularizadas pelo conceito de tribo urbana e seu “vaivém constante que
se estabelece entre a massificação crescente e o desenvolvimento dos
microgrupos” (1987, p. 8).
Esse prólogo que mais parece abstração vã, na verdade,
trata-se de um ensaio sobre o nosso momento histórico de visíveis contradições,
pois, ao passo em que nos deslocamos em direção às frenéticas aglomerações, a
fim de fazer parte da “estrutura complexa ou orgânica” pós-moderna, também
buscamos lograr, à custa de esforço intransferível, a “própria salvação”, a
partir do temor ao ‘outro’, pois o olhar sobre o ‘outro’ faz aparecer as
diferenças e, consequentemente, elevam-se as trincheiras e distâncias entre as
diferenças, nesse contexto, onde, muitas vezes, apenas o igual é salutar,
admirável e favorável.
Isto posto, voltando à ‘imagem mental’ circunscrita nos
povos indígenas, seriam eles cidadãos ou não? Diriam que seus legatários
vindouros, licença para a redundância, também são cidadãos? Mas, afinal, o que
faz de alguém ser um cidadão ao longo da história?
Pois bem, desde o domínio dos portugueses nas terras que
vieram a ser terras brasileiras, a cidadania europeia foi aproximada a
expressão grega polis, isto é:
cidades-estados. Então, alicerçada na compreensão da Grécia antiga, o conceito
de cidadania europeia estava emaranhado com o conceito de naturalidade, assim
sendo, cidadãos eram tão somente aqueles nascidos em território Grego. Trata-se
de uma imediação semântica também com o latim, posto que civitatem significa cidade, fazer parte da cidade, compor sua
estrutura política e representar uma casta social (BARACHO, 1994). Nessa
perspectiva, os habitantes da ‘nova terra’ (os povos ameríndios) moravam na
“cidade”, no entanto não participavam dos seus negócios. Assim também os ‘outros’,
forçosamente trazidos como “coisas” ou objetos (os negros africanos), moravam
na “cidade”, ainda assim, eram estrangeiros e não participavam dos negócios,
eram, negros e índios, os próprios negócios.
À vista disso, não havia uma compreensão de humanidade no
negro e no índio do passado, logo, não havia cidadania. Não eram pessoas,
apenas um sopro ínfimo de vida. A “cidade” era um espaço repleto de
expectativas e exigências, por certo, um pesado desafio colocado a esses
específicos sujeitos os quais eram impostos a “marca do insólito, do diferente”
(SOUZA, 1983, p. 26). Eram o que Ciampa chama de “um outro outro” (1998, p. 79,
grifo do autor).
Ser o diferente é ser o ‘outro’. Ser o ‘outro’ é não ter
cidadania. Neste sentido, “ser-no-mundo” como “alguém” de ascendência “fincada”
na África ou de alteridade indígena é ser vítima potencial de uma crônica
cruel, afinal a consciência da diferença por si atemoriza e é preciso
subjugá-la e, depois, é preciso incutir uma bestialidade para, assim, poder
traduzi-la, explicá-la, devastá-la, sufocando-a enquanto realidade viva.
Então, para que não reste dúvida, o negro não é gente,
logo não tem cidadania. É mera mercadoria, vendida por metro e por tonelada.
Peças do além-mar, toneladas do outro lado do Atlântico, apenas fôlego para o
trabalho austero. “O valor do negro era medido por metro, por quilo, na
qualidade dos músculos, na idade, nos dentes, no sexo, na saúde geral, no
aspecto etc.” (Chiavenato, 1987, p. 123).
O índio é perversamente diferente, assim, é preciso torná-lo
igual, quer dizer, civilizado para apoderar-se do que é dele. Justifica-se,
pela sua provável indolência e obtusidade a necessidade de dominá-lo. O ‘eu’
branco queria o índio cristianizado, coberto pelo véu civilizatório pela
identidade legitimamente cidadã, por isso, “um índio civilizado é um índio que
foi civilizado por um branco civilizador” (BRANDÃO, 1986, p. 8).
É importante destacar que o estudo da História
do Brasil, no livro didático, tem como marco inicial a chegada do homem
primitivo na América, que, durante a sua marcha evolutiva, constituiu as
estruturas tribais indígenas, tal qual os portugueses surpreenderam quando aqui
atracaram. Por isso, por volta do século XX, as expressões artísticas
brasileiras estiveram impregnadas de ufanismo, com suas interpretações
românticas e pacíficas do cruzamento entre os portugueses e os índios nativos,
vendo na “união do português com a mulher índia”, uma bem-intencionada incorporação
cultural, econômica e social, visto que a mistura entre raças passou a ser
compreendida como um fenômeno único, original, e inteiramente favorável à
sociedade brasileira. No entanto, nossa identidade nacional está fatalmente
vinculada a essa história pelas marcas mais hediondas.
A dispersão de grupos humanos, portanto a diáspora, termo
derivado, segundo Hall (2013, p. 31), do povo judeu, significando a dispersão
judaica entre outras nações, no Antigo Testamento, e as trocas estabelecidas
entre culturas por meio de mecanismos interconectados não são características
exclusivas da sociedade pós-moderna. Afinal de contas, no passado também se
organizaram distintos entrecruzamentos, presentes, por exemplo, na permuta de
mercadorias por trabalho, naquilo que os livros de história ensinam como sendo
escambo, identificado nas “relações de trabalho”, entre portugueses e índios,
que eram usados em pequenas lavouras e na exploração do pau-brasil, no início
do século XVI, em troca de bugigangas (apitos, espelhos, chocalhos). Enfim, são
intercâmbios igualmente aplicados e verificados nas relações de parentesco e
comércio dessas épocas decorridas.
Lamentavelmente, a gênese do Brasil ainda vem
sendo alimentada pela fabricação ideológica de um passado histórico, único e
homogêneo, onde os desbravadores portugueses eram enxergados como um povo
predisposto à miscigenação e desprovido de preconceito racial. Na verdade,
porém, o encontro entre brancos e indígenas deu-se a partir de embates e
resistências, em que os índios se opuseram às consequências nocivas do contato
com o branco, em seus territórios. Em vista disso, muitas tribos e aldeias
indígenas foram arruinadas, tanto pela força militar dos brancos europeus, como
pelas enfermidades e a destruição dos seus recursos de vida e cultura.
O fato é que, do hibridismo, quer dizer, “[...]
da mistura de elementos heterogêneos, delimitados e fixos” (SOUZA, 2016, p.
55), entre o índio e o europeu, resultou, entre outras coisas, a constituição
de uma comunidade indígena doutrinada, afinal índio dócil é um índio que foi
“amestrado” por um branco civilizador, bem como na opção pelo sistema de
exploração colonial agrícola. Assim, com a descoberta, aqui no Brasil, de
metais ricos, como o ouro, a mão de obra nativa deixou de ser opção viável,
identificando os povos africanos como mais aprimorados para “colaborarem” com
os interesses coloniais, por consequência, vários negros embarcaram nos portos
da costa africana para uma viagem longa rumo ao desconhecido triste. Sendo assim, aquela colônia portuguesa se
compunha também pela presença maciça de negros/as escravos/as, que integravam,
junto com os índios, o último lugar na conjuntura social e mantiveram-se inferiorizados
nesta organização.
No entanto, há quem, referindo-se às culturas
participantes da composição identitária brasileira, recomende o entendimento do
sociólogo Gilberto Freyre e a presença de uma maleabilidade que teria favorecido
a mistura, produzindo, então, uma sociedade miscigenada harmônica na
contrariedade:
“Considerada de modo geral, a formação brasileira tem sido, na verdade, [...], um processo de equilíbrio de antagonismos. Antagonismos de economia e de cultura. A cultura européia e a indígena. A européia e a africana. A africana e a indígena. A economia agrária e a pastoril. A agrária e a mineira. O católico e o herege. O jesuíta e o fazendeiro. [...] O bacharel e o analfabeto. Mas predominando sobre todos os antagonismos, o mais geral e o mais profundo: o senhor e o escravo” (FREYRE, 2004, p. 116).
Todavia, é preciso destacar a incorporação e
a sutil ameaça procedente da ‘democracia racial’ ou pseudo-cidadania,
capciosamente diluída como teoria, no fragmento de Gilberto Freyre, denotando
uma aura de harmonia e proporcionalidade diante das diferenças próprias às
culturas indígena, europeia e africana, pressupondo que as circunstâncias
significativas da formação brasileira aconteceram pelo genuíno esforço, por
parte dos europeus, em se adaptar a condições inteiramente estranhas, pondo-se
em contato amistoso com a cultura indígena, e sendo “amaciada pelo óleo” da
intervenção africana. Freyre, no entanto, equivocou-se, pois para o “bicho
negroide” passivo do barbarismo, tudo foi ranger e cólera, sempre!
“A teoria da democracia racial, é preciso salientar, foi criada para fundamentar uma homogeneização cultural e omitir as diferenças e desigualdades sociais. Serviu para fortalecer a ideia de uma História Nacional caracterizada pela ausência de conflitos [...]. Em sua face mais perversa, essa mesma teoria serviu para dissimular as desigualdades sociais e econômicas, e para justificar a situação de miséria de grande parte da população: um povo mestiço, que carrega os males de uma fusão de grupos selvagens indolentes (índios que não queriam ser escravos e se rebelavam contra esse trabalho tão digno para a grandeza da pátria) e de negros africanos submissos e sem vontade própria, sem desejos de vencer na vida! A preguiça e a indolência, frutos dessa mestiçagem democrática, eram, ou ainda são, os responsáveis pela pobreza da maioria da população” (BITTENCOURT, 2012, p. 199).
A partir dessa constatação, resta-nos
ressaltar os malefícios e prejuízos respingados imprudentemente nas relações
raciais no Brasil, em grande parte decorrentes da popularização da teoria da
democracia racial, que, na perspectiva de Gilberto Freyre (2004), é verificada
pela liberalidade presente no encontro pluriétnico, assim como pela
intercomunicação e até a fusão simétrica de tradições diversas. Por isso os
índios foram “domesticados para o transcendental”, enquanto o homem branco
misturava-se “gostosamente” com as mulheres de cor, multiplicando-se por meio
dos filhos mestiços, e demonstrando o quanto estavam predispostos a uma
“colonização híbrida”. Assim, uma vez que, pelo contato do homem branco
português, se formou aqui uma sociedade agrária na estrutura econômica, híbrida
de índio e mais tarde de negro, ver-se em uma democracia racial baseada na
premissa de que a reunião das etnias e culturas aconteceu de um modo exitoso,
provocando a formação de uma sociedade ausente de severas acomodações raciais e
sem agressivos preconceitos.
À vista
disso, a Colônia Brasil é farta de outros tantos exemplos da hierarquização que
se fez pela mão astuta, traiçoeira e perniciosa. Portanto, quem julgou lícito dividir
o território brasileiro em lotes hereditários? Quem eram os filhos herdeiros
das capitanias e suas grandes sesmarias? Eram os ‘filhos da terra’ ou as ‘mãos
pretas’ do arado? Por isso, a perder de vista os latifúndios, tal qual Garcia
d’ Ávila, filho de Tomé de Souza, perpetram a lastimável escravidão também nos
tempos modernos. Afinal, se no longínquo passado as terras de norte ao sul da
Bahia eram administradas pelos “olhos” da Casa da Torre que não conheciam
metade do seu império, apenas determinavam ou prescreviam improbidades e
truculências aos degredados da cidadania.
Índios,
negros, mulatos mestiços, raças bárbaras, vítimas da opressão e dos efeitos da
alienação. O que fazer? Como deixar ‘de ser’ expatriados e passar ‘a ser’ como
‘eles’ os tais “homens bons”? Talvez hipnotizados pelo fetiche do branco, eles,
o negro e o índio, estivessem condenados a negar tudo aquilo que contradiga a
brancura e a possibilidade de se tornar “agente de civilização”, logo “agente de
cidadania”.
As ideias que
sentenciaram as diferenças para o calabouço das desigualdades foram bem
acolhidas e introduzidas no Brasil no fim do século XIX, permanecendo de
maneira vigorosa até o fim da Primeira República, em 1930. A ordem social
consagrada vestiu o corpo nu indígena com panos de algodão. As instituições travestidas
de cientificidades associavam o ex-cativo a “degenerescência NEGRA”,
“incorrigíveis malandros, viciados sub-homens que eram um perigo para a
moralidade pública” (Chiavenato,
1987, p. 234). As epidemias, os transtornos psiquiátricos e a criminalidade
eram todos oriundos de uma nódoa repulsiva e rude de um ex-escravo, cidadão sem
cidadania.
Trata-se,
portanto, de um “jogo de sinais-obstáculos que possam submeter o movimento das
forças a uma relação de poder” (Foucault, 1987, p. 124) e, assim, constroem pessoas,
categorias sobrepostas, consagra um sujeito biológico e culturalmente capaz de
SER, viver como parte de uma plena cidadania. O ápice do joguete é a
proximidade com a branquitude com o SER ALGUÉM, desse modo, os que foram
“marcados” pela exclusão e a diferença do NÃO-SER precisam se metamorfosear
nesse ‘outro’. É uma “morte-e-vida”, ou melhor, uma “morte-e-subvida. Nesse
caso, terá poder aqueles que atribuem “a si mesmos e aos outros significados
que os tornem sujeitos, sociedades e nações com nomes, símbolos e sinais de
diferenças” (BRANDÃO, 1986, p. 13).
Durante
muito tempo, a inexistência de uma reflexão na educação brasileira acerca das
relações raciais, por exemplo, no planejamento escolar, impossibilitou a
promoção de relações interpessoais respeitáveis e equânimes entre
aqueles/aquelas que compõem o cotidiano da escola.
“Com relação aos alunos negros, ressalta‐se que há uma nítida associação entre apelidos e a referência à inscrição racial. Ao se referir à cor da pele através dos apelidos, se destacam marcas raciais, traços de identificação de um determinado grupo racial, mecanismos que vão permitir o enquadramento do sujeito objetificado. Alunos negros são constantemente reduzidos em sua nominação a características e metáforas que possam circunscrevê‐los racialmente” (GENTILI et al, 2011, p. 15).
Essa
indiferença, no tocante à influência que o racismo, o preconceito e as
discriminações raciais têm nas diversas instituições educacionais, favoreceu a
afirmação dos fenótipos enquanto diferenças entre negros e brancos,
compreendidos como desigualdades naturais. Mais do que isso, engendrou os
negros de acordo com sinônimos chulos. Por consequência, o silenciamento da
escola com relação ao racismo habitual não só atravancou a aprendizagem de
alunos/as negros/as e brancos/as nas escolas brasileiras, como também os
abruteceu, impedindo-os de serem pessoas verdadeiramente libertas das
hostilidades, dos preconceitos, dos estereótipos e dos estigmas, entre outras
mazelas.
“[...] a existência do racismo, do preconceito e da discriminação raciais na sociedade brasileira e, em especial, no cotidiano escolar acarretam aos indivíduos negros: auto-rejeição, desenvolvimento de baixa auto-estima com ausência de reconhecimento de capacidade pessoal; rejeição ao seu outro igual racialmente; timidez, pouca ou nenhuma participação em sala de aula; ausência de reconhecimento positivo de seu pertencimento racial; dificuldades no processo de aprendizagem; recusa em ir à escola e, conseqüentemente, evasão escolar. Para o aluno branco, ao contrário acarretam: a cristalização de um sentimento irreal de superioridade, proporcionando a criação de um círculo vicioso que reforça a discriminação racial no cotidiano escolar, bem como em outros espaços da esfera pública” (CAVALLEIRO, 2005, p. 12).
O
diagnóstico apresentado pela autora remete-nos ao passado, onde é possível
identificar a precariedade da escolarização dos negros brasileiros, pois é
certo que, olhando para o passado, entendemos aquilo que o presente revela com
veracidade. Afinal, eram os negros/as, sobretudo os/as africanos/as
escravizados/as, proibidos/as de aprenderem a ler e escrever, sendo
impedidos/as de frequentarem as escolas, quando estas existiam. E se tivessem a
permissão e o “privilégio” de terem os/as seus filhos/as acesso às lições
catequéticas dos jesuítas, seria apenas com o intuito de mantê-los submetidos
ao austero controle de seus senhores missionários, portanto, um propósito muito
distante de algo que objetivasse efetivamente a mudança no destino dos cativos.
Assim,
estabeleceu-se para os/as negros/as e mestiços/as um processo contraditório de
“inclusão e exclusão” à cidadania brasileira, isso por intermédio da educação.
Inclusão pelo princípio da igualdade republicana, mas, na prática, imperavam as
ressalvas, pois a educação definia a instrução necessária para a participação
efetiva da cidadania, tal como o direito ao voto. Por não estarem os/as
ex-escravizados/as inseridos/as na cultura letrada, visto que não havia um
sistema escolar para todos, lhes era negada a real liberdade e igualdade. Esse
acesso diferenciado à cidadania brasileira significava, entre outras coisas, a
consolidação das desigualdades sociais. Diga-se de passagem, desigualdades
relativas à educação que tiveram como consequência as dificuldades dos negros e
seus descendestes de encontrar sua dignidade a partir da conquista de um
emprego, de uma renda e maior qualidade de vida.
A Educação
brasileira acumulou uma dívida altíssima em relação às populações desterradas
da plenitude cidadã, por isso, no que se refere às relações étnico-raciais, a
história e a educação sempre estiveram interligadas ao processo de negação e
afirmação construídas para e pelos/as negros/as. Estes/estas não fazendo parte
do universo letrado não se resignaram com a exclusão que lhes foi imposta,
organizando movimentos de luta e resistência, ao longo da história. Os negros
conquistaram o direito ao trabalho livre, o direito ao livre culto de suas
religiões, o direito de constituir família, de viver fora de tutelas.
A luta,
contudo, assentou-se pelo viés da auto-afirmação e da honra de ser negro/a. Assim,
eis o momento em que a cultura de direitos se amplia para uma Cultura de
Direitos Humanos e reclamar pela igualdade básica, a partir da compreensão de
que a sociedade é formada por sujeitos que pertencem a grupos distintos,
possuidores de cultura e história próprias e igualmente dignas, é se reconhecer
construtor da genuína cidadania.
Referências
Ivanize Santana Sousa Nascimento é professora de História da Educação
Básica do município de Itiúba/BA.
Antonio José de Souza é Mestre em Educação e Diversidade
pela UNEB - Universidade do Estado da Bahia) e professor de História da
Educação Básica do município de Itiúba/BA.
BARACHO, J. A. de O. Teoria geral da cidadania: a plenitude da cidadania e as garantias
constitucionais e processuais. São Paulo: Saraiva, 1994.
BITTENCOURT, C. Identidade nacional e
ensino de História do Brasil. In: KARNAL, L. (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 6. ed.
São Paulo: Contexto, 2012.
BRANDÃO, C. R.
Identidade e etnia: construção da pessoa e resistência cultural. São Paulo: Ed.
Brasiliense, 1986.
CAVALLEIRO, E. Introdução. In: BRASIL.
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade. Educação anti-racista:
caminhos abertos pela Lei Federal nº 10.639/03. Brasília, DF: MEC/SECAD, 2005.
p. 11-18.
CHIAVENATO, J. J. O
negro no Brasil: da senzala à Guerra do Paraguai. 4. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1987.
CIAMPA, A. da C. A
estória do Severino e a história da Severina: um ensaio de psicologia social.
São Paulo: Brasiliense, 1998.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da
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FREYRE, G. Casa-grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 49. ed. São Paulo: Global, 2004.
GENTILI, P. et al. Educação e população afrodescendente no Brasil: avanços, desafios e
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SOUZA, N. S.
Tornar-se negro: as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão
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Olá, colegas educadores! Esta semana é para nós um grande momento de bebermos da fonte da História com toda esta riqueza de temas bem contemporâneos. Estamos vivendo graves crises na nosso país e, por traz de tudo isso nos questionamos: Por onde anda a cidadania? os nossos jovens imitam pelo menos um pouco àqueles dos anos 60,70...90?O Ensino da História tem orientado as pessoas a lutarem pelos seus direitos e cumprirem seus deveres? Então, vamos refletir nas entrelinhas deste texto publicado por mim e o colega Antônio José, quão necessário se faz ir em busca da verdadeira cidadania que vai além de marcos legais.
ResponderExcluirOlá, gostei muito das discussões apontadas no texto. Trabalhar com cidadania na história e em seu ensino nos tempos atuais de tantas inflexões e retrocessos é um desafio mais do que necessário. Parabéns. Ao tratarem das populações desterradas como vocês conseguem fazer os alunos distinguir "sem preconceitos" os privilégios que algumas receberam (terras, status, valorização cultural) como os advindos da Europa e os que foram marginalizados ao longo dos séculos como os africanos? Conseguem traçar com os alunos um paralelo que as faça ver nas ondas migratórias atuais de haitianos, venezuelanos, africanos a mesma "desterritorialização" e como a cidadania em vários casos continua sendo negada à essas pessoas? Belo trabalho, continuem firmes na pesquisa.
ResponderExcluirProfa. Dra. Janaina Cardoso de Mello
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Mestrado em Ensino de História (ProfHistória)
Olá, professora Janaina!
ResponderExcluirAntes de qualquer coisa, muito grato por sua participação.
A senhora oferece uma oportuna questão, afinal, a partir desse lugar de poder e controle (de determinados povos e cultura), é possível, numa articulação de vozes e silenciamentos, refletir como os/as alunos/as, por exemplo, sobre a imagem do/a negro/a na sociedade brasileira do passado e do presente.
Pois, se na conjuntura do passado os/as negros/as foram forjados/as como um ser humano inferior e “coisificado” por meio de uma engrenagem sistêmica, elaborada para negligenciar os conhecimentos que são transmitidos desde o nosso nascedouro, no tocante aos acervos culturais, educacionais, religiosos, dentre outros; torna-se importante analisar a realidade dos povos negros na nossa contemporaneidade, isto é: os/as negros/as continuam centralizados/as em um processo estigmatizante, personificados/as como o “outro”, o/a estranho/a, o/a escravo/a, dominado/a e vítima permanente de incontáveis formas de exclusão?
Nessa perspectiva, cabe destacar que nossa vida, nosso mundo, constitui-se em um tempo onde a identidade individual é formada a partir da consciência acerca da sua condição existencial, tanto no aspecto individual ou mesmo como membro partícipe de distintas tribos. Trata-se de um momento de visíveis contradições, pois, ao passo em que nos deslocamos em direção às frenéticas aglomerações, a fim de fazer parte da “estrutura complexa ou orgânica” pós-moderna, também buscamos lograr, à custa de esforço intransferível, a “própria salvação”, a partir do temor ao “outro”, pois o olhar sobre o outro faz aparecer as diferenças e, consequentemente, elevam-se as trincheiras e distâncias entre as diferenças, nesse contexto, onde, muitas vezes, apenas o igual é salutar, admirável e favorável.
Portanto, eis um trabalho desafiante, no entanto urgente, pois disso depende o exercício pleno da cidadania.
Antonio José de Souza